sexta-feira, 15 de abril de 2011

" O Jovem "



A casa vazia, apenas o silêncio: bebidas espalhadas, fotos rasgadas, sonhos sonhados, vidas perdidas, sobretudo a dor, a dor do amor, a dor apenas para saciar a alma, a dor apenas para sentir dor.
Agulhas, seringas, cigarros, tudo espalhado, fazendo da sala um altar de promiscuidade, um altar de perversão, um altar de solidão.
As luzes apagadas, assim como o pensamento,ficando assim a mercê do acaso, podendo assim esconder as lágrimas que caem dos olhos.
O corpo todo caido ao chão, manchado de devassidão, esperando por alguém, alguém que um dia bateu a porta e nunca mais voltou, alguém que um dia chorou e apenas chorou, sem conseguir sorrir novamente.
Na esquina a morte, com seu machado e a sua foice, esperando o tempo, o tempo para trazer a dor, a perdição, as vítimas, a depressão, a solidão.
Escrevendo no livro do universo, que mais uma vez ela ganhou, ela chorou, ela sorriu, ela gozou, o gozo dos vencedores o gozo de ver vidas chorando, vidas acabadas, vidas frustradas.
O jovem, que na sua alma jovem, sonha, chora, sorri na plenitude, na pureza dos seus vinte anos, apenas por ser jovem não sabe o quanto a sua vida é curta, hoje ele bebe, ele ama, ele sorri, ele aplaude, ele vive; amanhã o seu olhar puro a terra engoliu, a morte tragou o seu fôlego da vida, e agora, o que fazer?
No seu insaciável desejo de viver, ele simplesmente morreu, deixando seus sonhos, seus medos, seus desejos apenas para a alma do mundo, podendo somente a energia, o cosmos, gozar desses desejos, sem ao menos ele ver se realizar, sem ao menos ele ver as pessoas que ele tanto amava e tanto odiava, chorando, clamando, e muitas vezes pedindo perdão por aquilo que fez, por aquilo que não fez, pelo remorso, pela dor.
E o jovem sobe, ultrapassa os céus,
o firmamento, ultrapassa as estrelas, os planetas, o cosmos e a sua alma volta para a alma do mundo,
que também volta para o mundo, e esse jovem volta para a vida e começa a reviver o seu passado e as vezes até a viver o seu futuro, na lembrança dos amigos, dos familiares, dos que o amavam, e esse jovem se perpetua na vida e nunca será esquecido, porque esse jovem viveu um dia:
um dia nessa terra ele chorou;
Ele amou;
Ele perdeu e até ganhou e
por isso ele se transformou em uma parte do mundo;
Em uma parte do universo;
Em uma parte da vida;
Em uma parte de Deus.

                               FELIPE DIAS BARCELLOS CLETO


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